Nos últimos tempos muito se tem falado sobre o aquecimento global, efeito de estufa, ou a rarefacção da água. Tudo problemas que, no futuro e se não forem tomados em devida conta, porão em causa a sobrevivência do homem e do planeta.
Existe o tratado de Quioto (que os EUA se recusaram a assinar) cujo objectivo principal é o compromisso de todos os países (sobretudo os industrializados) em reduzir a poluição no globo, impondo-se para isso taxas máximas de emissão que devem ser cumpridas por todos, sob pena de serem aplicadas multas aos infractores.
Lamentavelmente, Portugal parece encontrar-se agora nessa situação de infractor.
A nós Portugueses (e agora vou falar só de Portugal), tem-se apelado muito para que separemos os lixos para reciclagem, que desliguemos todos os electrodomésticos à noite por causa da libertação de CO2, e que poupemos na água (muitos de nós já o fazem mesmo sem incentivos: basta olhar para as facturas e vermos as exorbitâncias cobradas).
Mas depois não se verifica uma continuidade adequada para essas atitudes. O que se verifica é que não só nos exigem que poupemos recursos, mas também que paguemos (mais) por isso.
Um exemplo em particular são os Gaienses, que pagam bem caro as taxas de resíduos sólidos, de saneamento, etc, apesar de continuar a registar-se ineficiência nesses sistemas – por exemplo, ainda não há alternativa para o encerramento do aterro de Sermonde, que se aproxima a largos passos; a reciclagem é pouca, etc.
Entretanto, à nossa volta passam-se coisas que infelizmente não dão para entender. Por exemplo, quando a Câmara do Porto promove uma iniciativa de corridas de automóveis durante dois fins de semana, saber-se-á quantas toneladas de gases foram expelidas para a atmosfera, contribuindo para o efeito de estufa?
Em Vila Nova de Gaia foi aprovada, pela maioria PSD-PP e pelo PS, a cedência de espaços públicos municipais a empresas privadas, para construção de parques de estacionamento (aliás como é também prática na cidade do Porto), passando os parques do Agueiro e o do Centro Cívico a ser subterrâneos, e criado outro no Jardim de Soares do Reis, com a desculpa de estes poderem servir de interface para os transportes públicos. Ora, o que importaria era criar condições para que as pessoas saíssem de casa sem o carro e tivessem à sua disposição transportes públicos de qualidade.
Esta opção política constitui, pelo contrário, um incentivo para o aumento do número de carros no centro da cidade, a troco de uns (poucos) milhares de Euros que a Câmara encaixará no seus cofres, para além da agravante de contribuírem para a impermeabilização dos solos, não deixando que as águas das chuvas cheguem aos lençóis freáticos, logo diminuindo a água potável disponível para o abastecimento das populações; e ainda como reverso da medalha, as águas das chuvas, ao não se infiltrarem na terra, provocam enxurradas e inundações, com grande prejuízo para as populações.
A especulação imobiliária ou fundiária (valor do solo urbano) faz com que se esconda, entube e construa sobre as ribeiras e linhas de água, que, para além de terem grande importância como elemento de identidade urbana, são um recurso urbano, um elemento de valorização da qualidade de vida urbana, têm valor paisagístico, estético recreativo e dialéctico, melhoram o clima urbano ao aumentar a humidade relativa, reduzem a temperatura, a amplitude térmica, e melhoram a qualidade do ar.
Assistimos pois a uma atitude de dupla cara por parte de muitos responsáveis políticos, governantes ou autarcas: por um lado afirmam-se preocupados com o Ambiente; por outro, não são visíveis quaisquer preocupações com o Ambiente nas suas políticas, excepto no que respeita à possibilidade que aplicar mais umas taxas e constituir mais umas empresas.
Essas contradições resultam em prejuízo para todos nós.
Paulo Tavares
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