Da actualidade de Tordesilhas - Texto de JS
Em 1494, os reis de Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas, com o qual , em função dos interesses da época, dividiram o Mundo em duas partes, para aquém e para além dum meridiano situado a 370 léguas a oeste de Cabo Verde.
Mas o Mundo, bem o sabemos, era maior que as suas desmedidas ambições.
Hoje, ao assistirmos à telenovela em torno da distribuição de lugares entre os dois maiores partidos na Caixa Geral de Depósitos, no Banco de Portugal e linhas derivadas no maior banco privado, ocorre lembrar que a causa de tanta vozearia reside na alegada violação, por uma das partes, de um acordo tácito que obrigaria o partido do Governo a nomear para certos cargos uma figura do partido oponente, com o qual se tem revezado no poder desde há trinta anos.
Apesar das juras de virtude de alguns responsáveis, na verdade assim aconteceu, e o novo Presidente da Caixa é um destacado quadro do PSD. Seguem-se agora novos episódios, e um cansativo jogo mediático de ditos e contra-ditos.
O que fica claro, nesta despudorada troca de acusações, é que há uma disputa de influências entre os dois maiores partidos numa promíscua área onde se tocam poder político e capital financeiro, e que para ocupar determinados lugares de relevo, mais do que a competência, conta o cartão do Partido que se tem. A isto chegámos.
O que move uns e outros não é uma diferença de política mas o cru exercício do poder , não é uma alternativa, mas garantir uma alternância com “ equilibrada” partilha de ganhos e domínios.
De acordo estão, PS e PSD, com o essencial das políticas seguidas, o Tratado de Lisboa, as perdas de soberania, as privatizações, a flexigurança, a liberalização dos serviços públicos, os baixos salários e pensões, a desvalorização do sector produtivo, diferindo apenas no ritmo e a intensidade da ofensiva de matriz neo-liberal, que está e desmantelar – é o termo apropriado- a democracia nascida em Abril.
Para coroar esta obra de desconstrução dos direitos económicos e sociais, num cenário de pactos assinados ou por assinar, verdadeiros acordos de geminação entre PS e PSD, ultimam agora novas leis eleitorais que, além de favorecerem o caciquismo, mais não são, a crer nas notícias, do que modos de perpetuar a rotatividade de ambos no governo e autarquias, e marginalizar os demais.
Em boa verdade, nem o PSD é oposição ao PS nem vice-versa. Com a luta política assim reduzida a operações de mercado, lances mediáticos e rivalidades de ocasião, são apenas partidos em concorrência, nada mais.
Jorge Sarabando
Deputado municipal da CDU
Mas o Mundo, bem o sabemos, era maior que as suas desmedidas ambições.
Hoje, ao assistirmos à telenovela em torno da distribuição de lugares entre os dois maiores partidos na Caixa Geral de Depósitos, no Banco de Portugal e linhas derivadas no maior banco privado, ocorre lembrar que a causa de tanta vozearia reside na alegada violação, por uma das partes, de um acordo tácito que obrigaria o partido do Governo a nomear para certos cargos uma figura do partido oponente, com o qual se tem revezado no poder desde há trinta anos.
Apesar das juras de virtude de alguns responsáveis, na verdade assim aconteceu, e o novo Presidente da Caixa é um destacado quadro do PSD. Seguem-se agora novos episódios, e um cansativo jogo mediático de ditos e contra-ditos.
O que fica claro, nesta despudorada troca de acusações, é que há uma disputa de influências entre os dois maiores partidos numa promíscua área onde se tocam poder político e capital financeiro, e que para ocupar determinados lugares de relevo, mais do que a competência, conta o cartão do Partido que se tem. A isto chegámos.
O que move uns e outros não é uma diferença de política mas o cru exercício do poder , não é uma alternativa, mas garantir uma alternância com “ equilibrada” partilha de ganhos e domínios.
De acordo estão, PS e PSD, com o essencial das políticas seguidas, o Tratado de Lisboa, as perdas de soberania, as privatizações, a flexigurança, a liberalização dos serviços públicos, os baixos salários e pensões, a desvalorização do sector produtivo, diferindo apenas no ritmo e a intensidade da ofensiva de matriz neo-liberal, que está e desmantelar – é o termo apropriado- a democracia nascida em Abril.
Para coroar esta obra de desconstrução dos direitos económicos e sociais, num cenário de pactos assinados ou por assinar, verdadeiros acordos de geminação entre PS e PSD, ultimam agora novas leis eleitorais que, além de favorecerem o caciquismo, mais não são, a crer nas notícias, do que modos de perpetuar a rotatividade de ambos no governo e autarquias, e marginalizar os demais.
Em boa verdade, nem o PSD é oposição ao PS nem vice-versa. Com a luta política assim reduzida a operações de mercado, lances mediáticos e rivalidades de ocasião, são apenas partidos em concorrência, nada mais.
Jorge Sarabando
Deputado municipal da CDU