29 de abril de 2008

Mais uma - Texto de JS

Já sabíamos: o concelho de Gaia tem dos mais elevados índices de desemprego e precariedade do País.
Para essa situação concorre o encerramento de grandes e pequenas empresas, sem que surjam alternativas de emprego, estável e de qualidade, ao mesmo tempo que prosseguem os despedimentos a conta-gotas.
Muitos são os trabalhadores que ao entrarem de manhã na empresa não sabem se serão eles os chamados à saída para apresentarem o pedido de rescisão, ou seja, trocar o salário certo, embora baixo, por uma compensação que nenhuma garantia dá para o futuro. Por aqui se pode avaliar a instabilidade emocional em que vivem muitas famílias.
Esta situação tem-se agravado nos últimos anos. Fechou a Brax, e centenas de trabalhadores ainda não receberam todas as indemnizações a que têm direito. Vai fechar a Yazaki Saltano, e são mais quatrocentos trabalhadores no desemprego. Num efeito de dominó, muitos estabelecimentos comerciais vão fechando as portas e, ao mesmo tempo, aumenta a pobreza – a que está, e a que não está exposta, mas vai dando sinais inquietantes.
Recentemente fechou a Altecna, empresa metalúrgica de Grijó. Desde há 5 meses que mais de 30 trabalhadores fazem vigília na fábrica, para defenderem o património material da empresa. Têm muitos meses de salários em atraso e deverão ser-lhes pagas as indemnizações a que têm direito. De nada têm garantias. Por isso, ali estão, a pé firme, com tristeza, mas também com firmeza e determinação. Há um tom de amargura quando dizem que “têm idade a mais para arranjar emprego, e a menos para alcançarem a reforma”.
O entusiasmo só chega quando referem os padrões de elevada qualidade dos materiais produzidos, a boa carteira de clientes. As críticas vão para a gestão, responsável pelo encerramento da empresa.
A luta dos trabalhadores da Altecna merece, exige, todo o apoio e solidariedade, e por isso os eleitos do PCP levantaram o problema nos órgãos a que pertencem: Assembleia da República, Câmara e Assembleia Municipais. Cabe às entidades competentes decidir, mas o que é essencial, o que é justo, é garantir que os direitos destes trabalhadores sejam respeitados, e os salários e indemnizações devidos lhes sejam pagos.
Não resolve o problema do emprego, que vai subsistir para muitos deles, mas ajuda-os a enfrentar a adversidade que caiu sobre as suas vidas e as suas famílias.
Não há verdadeira democracia quando não são defendidos os direitos de quem trabalha.
Uma reflexão final, noutro plano, aqui fica: como é que a Economia do País se pode desenvolver, quando o sector produtivo vai enfraquecendo, como está a ocorrer no Concelho de Gaia?

Jorge Sarabando
Deputado Municipal da CDU