13 de maio de 2008

De costas voltadas -Texto de JS

Porto e Gaia, os dois concelhos mais populosos do Norte, com mais de meio milhão de habitantes, vivem há demasiado tempo de costas voltadas um para o outro.

A cooperação entre as duas autarquias é indispensável para o seu desenvolvimento e afirmação. São úteis e necessários os projectos comuns em diferentes áreas como a rede viária, o ambiente, o urbanismo, a cultura, a defesa do património. Mas o caminho escolhido é o oposto. É a ignorância mútua ostensiva, é a falta de resposta em projectos que a ambos interessa, tendo como pano de fundo os ataques pessoais entre os dois Presidentes de Câmara, perdidos nas suas ambições e rivalidades pessoais de cariz partidário.

A única colaboração visível reduz-se ao fogo de artifício de passagem de ano que, como se sabe, dura uns escassos minutos.

De vez em quando, para iludir a realidade, surgem declarações sobre uma eventual fusão administrativa entre as cidades do Porto e Gaia. Nada de mais inconsequente e fantasioso.

A Ponte D. Maria Pia, desenhada e construída por Gustave Eiffel, uma obra-prima oitocentista da engenharia e da arquitectura do ferro, precioso património que urge preservar e valorizar, constitui um exemplo acabado desta falta de cooperação.

Há largos anos encerrada, desde a entrada em funcionamento de uma nova ponte ferroviária, vai apodrecendo diante de todos nós. Ideias para a sua reutilização não têm faltado, desde os tempos em que Fernando Gomes era Presidente da Câmara do Porto, como a de criação de um comboio turístico entre a Alfândega e as Devesas. Felizmente não foi avante pois, com boa parte do percurso em túnel, que negrume seria!

Um projecto mais recente, o de um circuito ciclo-pedonal que unisse as duas margens, parecia ser o indicado.

Mas acontece que as duas Câmaras não deram os passos que lhes competia e, por ora, a ponte vai continuar inactiva como está, apenas tendo sido prometida, pela Refer, uma pintura geral.

A Ponte D.Maria Pia é um exemplo, mas outros se poderiam apresentar, em que a cooperação entre os dois municípios seria proveitosa: novos atravessamentos do Douro, recuperação das escarpas das duas margens, dos Centros Históricos, intervenções nas áreas do Ambiente e da Cultura.

Assim quisessem os dois Presidentes de Câmara, Rio e Menezes, assim quisesse a maioria PSD, com a boa vontade do Governo PS. Mas não querem.

A isto se poderia chamar incúria e irresponsabilidade, um espectáculo de baixo nível, que nem o Porto nem Gaia merecem.

Jorge Sarabando
Deputado Municipal da CDU