Oiçam o que eles dizem - Texto de JS
O que mais impressiona no arquipélago de comentadores que se referiram à Marcha da Indignação que cobriu Lisboa, do Marquês ao Terreiro do Paço, em 8 de Março, é o tom agressivo, por vezes injurioso, que animou alguns deles, desde um conhecido cronista do ”Correio da Manhã”, que equiparou os professores aos ”hoolligans”, a um outro que, do alto da sua anafada presença, de passagem num telejornal, a comparou a um desfile de circo.
Deixemos, por ora, de parte, a triste circunstância de certos comentários estarem limitados pelo dever de fidelidade dos seus autores para quem os promove e ampara, pois o seu papel é o de simples notários do Poder, sempre zelosos em exautorar quem se atreva a opor-se ao Governo e à sua política.
A quem assim abomina a causa dos docentes, é indiferente que a manifestação de 8 de Março tenha sido a maior realizada desde sempre em Portugal, que todos os sindicatos do sector – e tão diversos eles são – se tenham associado, que tenha envolvido escolas inteiras, que muito mais de metade de todos os professores do País, de diferentes gerações, tenham desfilado, durante horas, pela avenida da Liberdade, com unidade, criatividade, determinação e mensagens claras.
Por isso, foi um acontecimento histórico, cujo significado só não compreende quem não quer compreender. Os seus efeitos vão perdurar e hão-de frutificar, mesmo que o Ministério e o Governo – tão longe levaram a sua intransigência – queiram dar a imagem de que nada cedem.
Fica dos discursos mais exaltados contra os professores a ideia, que o debate em curso põe a nu, da falta de reflexão e fundamentação, quando resumem os protestos à defesa egoísta de privilégios, à salvaguarda de interesses corporativos ou à recusa em serem avaliados – nada de mais falso.
A verdade é que a uma classe a quem tanto é pedido e que tem sido desconsiderada publicamente pelos governantes, foi imposta a revisão do Estatuto da Carreira sem o acordo dos sindicatos e associações representativos, foi imposto um novo regime de gestão contra um modelo democrático com mais de 30 anos de vigência e boas provas dadas, foi imposta uma carga horária não lectiva insuportável, entre tensões de raiz social que se multiplicam e uma massa burocrática sem fim, e agora pretende impor um modelo de avaliação que a maioria rejeita tal como é apresentado.
A acrescentar aos enganadores rankings das escolas, a uma cultura empresarial que quer generalizar, ao aumento da precariedade, à anunciada transferência para as Câmaras Municipais da gestão dos quadros de docentes, embora de forma mitigada, à desvalorização real do trabalho docente, às más condições de muitos edifícios e equipamentos, à carência de meios, o Ministério quer impor uma medida que os professores rejeitam e que vai enfraquecer a Escola Pública.
Oiçam e compreendam o que eles dizem. Não haverá boa escola sem professores motivados.
Jorge Sarabando
Deputado Municipal da CDU
Deixemos, por ora, de parte, a triste circunstância de certos comentários estarem limitados pelo dever de fidelidade dos seus autores para quem os promove e ampara, pois o seu papel é o de simples notários do Poder, sempre zelosos em exautorar quem se atreva a opor-se ao Governo e à sua política.
A quem assim abomina a causa dos docentes, é indiferente que a manifestação de 8 de Março tenha sido a maior realizada desde sempre em Portugal, que todos os sindicatos do sector – e tão diversos eles são – se tenham associado, que tenha envolvido escolas inteiras, que muito mais de metade de todos os professores do País, de diferentes gerações, tenham desfilado, durante horas, pela avenida da Liberdade, com unidade, criatividade, determinação e mensagens claras.
Por isso, foi um acontecimento histórico, cujo significado só não compreende quem não quer compreender. Os seus efeitos vão perdurar e hão-de frutificar, mesmo que o Ministério e o Governo – tão longe levaram a sua intransigência – queiram dar a imagem de que nada cedem.
Fica dos discursos mais exaltados contra os professores a ideia, que o debate em curso põe a nu, da falta de reflexão e fundamentação, quando resumem os protestos à defesa egoísta de privilégios, à salvaguarda de interesses corporativos ou à recusa em serem avaliados – nada de mais falso.
A verdade é que a uma classe a quem tanto é pedido e que tem sido desconsiderada publicamente pelos governantes, foi imposta a revisão do Estatuto da Carreira sem o acordo dos sindicatos e associações representativos, foi imposto um novo regime de gestão contra um modelo democrático com mais de 30 anos de vigência e boas provas dadas, foi imposta uma carga horária não lectiva insuportável, entre tensões de raiz social que se multiplicam e uma massa burocrática sem fim, e agora pretende impor um modelo de avaliação que a maioria rejeita tal como é apresentado.
A acrescentar aos enganadores rankings das escolas, a uma cultura empresarial que quer generalizar, ao aumento da precariedade, à anunciada transferência para as Câmaras Municipais da gestão dos quadros de docentes, embora de forma mitigada, à desvalorização real do trabalho docente, às más condições de muitos edifícios e equipamentos, à carência de meios, o Ministério quer impor uma medida que os professores rejeitam e que vai enfraquecer a Escola Pública.
Oiçam e compreendam o que eles dizem. Não haverá boa escola sem professores motivados.
Jorge Sarabando
Deputado Municipal da CDU