7 de novembro de 2013

CI - PCP/Gaia - Em defesa do Serviço Público de Rádio e Televisão - 06.11.2013

Em defesa do Serviço Público de Rádio e Televisão
Contra o fim da produção própria da RTP

Notícias recentes dão conta do fim de toda a área da produção própria do Serviço Público de Televisão - concretização do, desde há muito, almejado plano da direita de privatizar, desmantelar, destruir o Serviço Público de Rádio e Televisão, plural, independente, de divulgação e afirmação da cultura e da língua portuguesas, de salvaguarda e garantia da coesão e soberania nacionais.

A proposta de contrato de concessão de serviço público, ao contemplar o fim da produção própria, está a sentenciar o fim da rádio e da televisão públicas. Traduz-se na entrega total aos interesses privados de um pilar fundamental na prestação de Serviço Público, significando ainda um novo assalto aos bolsos dos portugueses: passarão a pagar, também, o lucro que os privados pretendam obter.

Não há serviço público de rádio e televisão sem produção própria. A concretização deste contrato de concessão vai atirar para o desemprego cerca de 900 trabalhadores a nível nacional. Mais desemprego, mais empobrecimento, naquela que tem sido a senda deste Governo e dos Partidos que o suportam. É uma medida que ataca a democracia e os valores de Abril, violando claramente os Artigos 38º e 82º da Constituição da República Portuguesa (referentes à "Liberdade de imprensa e meios de comunicação social", e Sectores de propriedade dos meios de produção", respectivamente).

Afirma o Governo que a RTP tem trabalhadores a mais, que custa um milhão de euros por dia, mas a verdade é que no final de 2011 a RTP tinha 17 canais de rádio e televisão, 2064 funcionários, sendo das estações mais baratas no plano europeu e cujas dívidas resultam do subfinanciamento imposto por sucessivos Governos, e de uma gestão errada. Um subfinanciamento que se mantém neste Orçamento de Estado, anunciando-se o fim das indemnizações compensatórias, e garantindo-se o financiamento da RTP somente através das receitas de publicidade e da contribuição audiovisual.

Para a RTP Porto, esta medida (contrária a tudo quanto tem sido prometido) trará consequências catastróficas, uma vez que a produção é basilar para o seu funcionamento. De salientar que a RTP Porto tem um papel essencial e estruturante na descentralização da produção de conteúdos para televisão. Ainda recentemente viu retirada a produção do programa "Praça da Alegria" – na altura os trabalhadores manifestaram-se contra esta medida e defenderam os seus postos de trabalho, tendo sido feita a promessa de transferência da produção da RTP2 para os estúdios do Monte da Virgem. Uma promessa cujo cumprimento ainda se espera. Sabe-se que a produção da Praça da Alegria, em Lisboa, está a ser assegurada também com profissionais da RTP Porto, desmascarando as justificações apresentadas para a sua deslocalização. É o Centro de Produção do Norte da RTP que assegura a edição e transmissão do "Jornal da Tarde", que reflecte em muitas das suas produções o norte do país e zonas do interior que de outra forma perderão a sua "voz". É o Centro de Produção do Porto que produz e edita cerca de 50% da informação para a RTP Informação, num garante de pluralidade, equidade, proximidade e democracia num plano social, económico, político, geográfico.

A concretização desta concessão ameaça o futuro dos trabalhadores da RTP Porto e do próprio Centro de Produção do Norte, além de ser uma incógnita o destino dos centros regionais do serviço de rádio, garante do cumprimento da coesão territorial e nacional, não parecendo estar também salvaguardado o seu património e riqueza.

O fim da produção própria da RTP significa, para Vila Nova de Gaia, que cerca de 300 trabalhadores se poderão juntar aos mais de 34.000 desempregados já existentes neste concelho (uma taxa de desemprego superior a 20%). Já anteriormente a CDU interveio na Assembleia Municipal, aquando da transferência da "Praça da Alegria" para Lisboa, manifestando a sua preocupação com o caminho eminente de privatização da RTP e tendo apresentado uma Moção de oposição ao mesmo e de solidariedade com os trabalhadores da RTP. Em Setembro último foi também apresentada uma Moção em defesa do Centro de Produção do Norte da RTP, a qual exigia ao Governo o cumprimento da, há muito prometida, transferência da produção da RTP2 para os estúdios do Monte da Virgem, assim como expressava a oposição à alienação, seja por concessão ou venda parcial, do Centro de Produção do Norte. Ambas as Moções foram aprovadas por unanimidade.

Há mais de uma dezena de anos que o PCP e a CDU têm denunciado as políticas de sucessivos governos e o constante subfinanciamento do Serviço Público de Rádio e de Televisão, apresentando moções na Assembleia Municipal e Projectos de Resolução na Assembleia da República, e estando ao lado dos trabalhadores na defesa dos seus postos de trabalho e dos seus direitos.

Desta vez não será excepção. O PCP lutará contra a delapidação do Serviço Público de Rádio e Televisão. Não aceitamos o fim da indemnização compensatória, devendo o Estado respeitar a Constituição e cumprir o seu papel no financiamento efectivo ao serviço público de rádio e televisão, nomeadamente assegurando meios humanos e financeiros para que possa ser prestado, na sua totalidade, pela RTP. Não aceitamos este contrato de concessão que permite que privados se alimentem do serviço público, nomeadamente quando a moeda de troca é o despedimento de centenas de trabalhadores e novo assalto aos bolsos dos portugueses.

O PCP defenderá a continuidade do Serviço Público de Rádio e Televisão consagrado na Constituição. A sua pluralidade e diversidade, democracia e equidade. A sua proximidade e delegações regionais, a sua produção própria e os sues trabalhadores.

O PCP e a CDU assumem o compromisso de continuar este combate, nomeadamente com a apresentação de uma Moção na próxima Assembleia Municipal, contestando este contrato de concessão, alertando para as nefastas consequências que trará à Região e ao concelho (tanto pelo desemprego directo, como indirecto) e apelando à luta dos trabalhadores na defesa dos seus postos de trabalho e da população na defesa do seu direito ao Serviço Público de Rádio e Televisão.

Este contrato de concessão, este ataque aos trabalhadores da RTP e à democracia fazem parte de um caminho ruinoso levado a cabo pelo Governo PSD/CDS. Só será possível inverter o rumo com a derrota deste Governo e com a construção de uma política alternativa, patriótica e de esquerda.

Vila Nova de Gaia, 06 de Novembro de 2013

Presentes na Conferência de Imprensa
-Diana Ferreira (deputada na Assembleia Municipal de V N Gaia)
-António Serafim (membro da Comissão Concelhia de V. N. Gaia do PCP)