27 de março de 2007

A Raposa e o Lobo - por PT

Não vou (re)escrever a história da Raposa (animal manhoso e matreiro, sempre com a intenção de enganar as personagens das histórias onde entra, para conseguir os seus intentos, que normalmente são detectados e sai sempre a perder de rabo entre as pernas) e do Lobo (animal que normalmente ataca em alcateia, e que escolhe como presas criaturas mais ou menos isoladas para poder abocanhar). Mas no dia a dia há pessoas que agem de forma a que nos lembremos de algumas histórias e personagens que preencheram a nossa infância.

Então lembrei-me de escrever sobre o Ministro da Saúde, pela postura que tem tido, com a colaboração do restante Governo PS, de tentar condicionar um direito dos Portugueses, consagrado na Constituição da República, que é o da Saúde, sempre em nome da redução do défice e do cumprimento do pacto de estabilidade, vendo-se as populações relegadas para segundo plano, logo atrás dos números. Senão vejamos: encerramento de maternidades e de centros de saúde, criação de taxas hospitalares, encerramento de urgências...

Relativamente ao fecho de maternidades, após o anúncio de tal decisão na comunicação social o Ministro veio a público dizer que esta decisão era para o bem das populações e que estas medidas eram tomadas apenas a pensar nestas e nas crianças; que, com estas medidas, de 400 nados-mortos por ano poder-se-ia reduzir para 200... as populações, que também conhecem a história da Raposa e são afectadas por estas medidas, organizaram-se, saíram à rua em protesto, pois entenderam que as maternidades em causa iriam fazer falta às mulheres, provocando a deslocação de muitas grávidas para maternidades de outros locais que não as das suas terras de origem.

Hoje podemos constatar que as populações, que nunca foram ouvidas, em tal processo, tinham e continuam a ter razões para estarem descontentes com esta medida, que já começa a ter reflexos: veja-se o nascimento de crianças em ambulâncias a caminho do Hospital. A isto o Ministro responde de forma manhosa: "isto não tem nada a ver com o fecho das maternidades, mas sim com um mau planeamento médico que se faz destas situações". Mas as medidas deste Governo e deste Ministro continuam a ser atentatórias dos interesses das populações, com o encerramento de inúmeros centros de saúde, assim como de urgências; aqui as manifestações agravam o tom, e o Ministro mais o Governo recuam, tendo que meter o rabo entre as pernas, não deixando de dizer que só querem o melhor para as populações e que algumas delas só ficariam a uma hora de distância das novas urgências!

Mas o Ministro é uma pessoa persistente e investe novamente, desta vez com matreirice, tendo vindo a público um documento "secreto" (faltando as duas últimas páginas) sobre o fecho de 56 urgências («SAP's»), ao que consta "fabricado" pelo próprio Ministério da Saúde, sem a colaboração de qualquer comissão técnica de acompanhamento. Ficamos à espera dos resultados destas medidas, mas o Ministro concerteza que também não se vai sair bem desta história.

Também quem tem estado atento a toda esta história é o capital privado, que já se pronunciou e vê nos locais desguarnecidos de maternidades, centros de saúde e urgências, a oportunidade para lá se instalarem, com clínicas e hospitais privados, para abocanharem (sabe-se lá se com a colaboração do Ministro…) o resto das economias daquelas pessoas.

É claro que o Ministro já veio tornar público que aqueles locais não têm condições para ter hospitais e clínicas privadas; mas como o povo não é parvo, já começa a ver a história da Raposa e o Lobo a cumprimentarem-se algures e a esfregar as mãos de contentes. Veremos no futuro como o povo dá resposta a isto.

Paulo Tavares